A despeito de representações e expectativas sociais, o advir da maternidade não é um processo que se consolida pela natureza dos eventos biológicos implicados. “Instinto materno” e “mãe desnaturada” são alguns termos que escutamos nas esquinas do mundo e que estão carregados de um pressuposto: não há lugar para o mal estar na maternidade. Mas, no campo da experiência, será mesmo assim? E quais são as implicações de não abrirmos, internamente e socialmente, espaço também para o mal estar nesse momento de vida e papel? Configurando um processo complexo e singular de mudanças fisiológicas, psicológicas, sociais, corporais, de papéis e no sistema familiar, o vir a ser da maternidade – e também da paternidade – evoca plurais questões, sensações, expectativas, lutos, imaginários, sonhos, fantasias, potencialidades, dentre outros. Mediante transformações tão profundas, estruturais e estruturantes, as experiências da gestação, do parto e do puerpério compõem o processo de tornar-se mãe de maneira potencialmente fértil para a mulher e a família. Contudo, essas mesmas mudanças podem vir a ser vivenciadas como excessivas, a depender dos recursos internos e externos que dispomos, podendo também engendrar quadros de sofrimento psíquico. Como podemos favorecer ações e cuidados promotores da saúde mental materna e paterna nesse processo de tornar-se pais? Convido-os a um bate-papo em torno dessas e outras questões afins.